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Na segunda edição do projeto Encontros Transversais de 2018, o bailarino Tiago Menegaz propõe múltiplas possibilidades para as educadoras da Gira Girou explorando o corpo em movimento

 

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Como perceber a infância e o seu movimento senão experimentando no corpo essa infância? Na Gira Girou, a formação dos educadores é algo que está menos nos livros e mais na prática. E nessa provocação baseia-se o projeto Encontro Transversais, cuja segunda edição de 2018 aconteceu no mês de junho. 

Foi uma manhã essencialmente feminina, em que professoras, brincantes, estagiárias e gestoras exploraram a mobilidade, conduzidas pelo bailarino Tiago Menegaz. O grupo foi instigado a dançar e a coreografar observando não apenas a cadência ou o ritmo, mas a textura dos movimentos e o pensamento sobre os gestos. 

A inquietação de Tiago ao preparar essa aula veio de uma experiência de 20 anos com o balé clássico. Se a proposta se limitasse ao modelo profissional, ele avalia, não iria funcionar. Seriam necessários mais tempo e vivência em dança contemporânea. " Acabaria sendo algo chato e eu queria justamente o oposto, que desse prazer e que nos fizesse refletir sobre como a proposta pedagógica da escola funciona com as crianças", analisa o professor. 

 

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Em vez da utopia da perfeição tão perseguida no balé, a turma foi convidada a um formato de dança empírico e instintivo. Dançar do começo ao fim, sem parar, seguindo instruções dadas a partir de sensações, sem noção de certo ou errado. Cada uma apenas se movendo em diferentes níveis e velocidades. 

Viagem no tempo - Para entender essa manhã, é importante voltar às primeiras aulas de Tiago na Gira Girou. Ele começou propondo um contato mais fisiológico com a dança, que cada um criasse marcas no corpo, tocasse a pele, sentisse os ossos, de si mesmo e do outro. Ali ficavam impressões. As sensações do toque, da textura, do calor e do frio poderiam ser percebidas como emoções. 

Desse movimento viria o medo, a valentia, a coragem ou a tristeza. E isso tornava possível trabalhar com texturas, explica Tiago. Em seguida, era a vez de misturar esse resultado aos níveis de altura do corpo. Provocar ações que fugissem da rotina, como se abaixar pela orelha, tentar chegar acima da cabeça pelo calcanhar ou ir para a direita pela costela. 

 

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Tiago buscava contraste. Ele desenvolveu ferramentas como sensação, emoção, texturas e níveis, contrastando-as com ações ao longo do tempo. Em sua aula de dança, para ser mais denso, por exemplo, era necessário encontrar uma textura mais áspera. Quem quisesse ser mais leve, buscaria uma textura lisa. O movimento levava à partes instintivas do corpo. E a dança ganhava sabor, cheiro, o som da respiração ou dos batimentos cardíacos.  

"Busco um movimento para o sujeito, entendendo o tempo de cada um. Não digo a ninguém o que fazer", observa o professor. Com as crianças, isso significa ter paciência. Não é para decorar sequência, mas respeitar o próprio corpo e sua autonomia. Com os adultos, o desafio é quebrar a barreira da timidez, principalmente quando a proposta é para apresentações individuais.

O exercício de ser pai fez Tiago ressignificar a dança como algo que demanda se escutar e entender as próprias limitações. Não é só o intelecto, ele diz, é um corpo inteiro. Não é a domesticação deste corpo, mas uma etapa natural. "Não acredito mais no modelo que vivi. O balé clássico foi nos limitando entre o certo e o errado, nos resumindo a um só conceito estético", desabafa. E continua: "Podemos obter resultados fantásticos fazendo uma conexão da dança com o prazer". 

 

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Encontros transversais - De volta à sala do último encontro, a potência já estava dada no aquecimento, quando Elza Soares cantava "A Mulher do Fim do Mundo" para mulheres dispostas a estar também no lugar das crianças com as quais convivem diariamente. Em seguida, a sugestão foi de que escutassem "Salto no vácuo com joalhada", do cantor e instrumentista Curumin e, a partir dessa música, cada uma acessasse a sua própria "caixa de ferramentas". 

De fora, via-se um grupo coeso, em que cada integrante acessava livremente suas emoções, com suas intensidades e seus freios. Entre um e outro passo, ouvia-se o professor dizer que tinham "groovado", o que significa passar de uma emoção para outra. Cada vez que ele mencionava o groove, era como se cada uma tivesse vivido uma pequena epifania. Saltado no vácuo, num abismo que poderia durar poucos segundos. 

Dançando, cada educadora exercitou os próprios limites e, quem sabe, reativou a própria infância. O caminho a ser trilhado ainda está aberto, adianta o professor, mas o grupo segue crescendo e vencendo barreiras, como o condicionamento e a insegurança.

 

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A mediadora Mariana Freire, que coordena o projeto, prefere chamá-lo apenas de Encontros, por considerar mais poético referir-se assim à proposta de empoderar um coletivo pelo atravessamento de muitas linguagens. E de fazer girar a ideia de aprender, ensinar e aprender de novo. No encontro do corpo em movimento, a dança reforçou o ubuntu, termo africano que inspira os Encontros Tranversais e lembra que "Eu sou porque nós somos". 

O terceiro módulo dos Encontros Transversais vai acontecer no próximo sábado (14/7), das 8h30 às 12h. Com o tema Corpo Artístico, o evento terá mediação de Cristiane Fernandez, Marcele Moreira e Eduardo Valverde. 

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